Por que caminhar rumo ao impacto positivo?

Por muito tempo fomos educados a enxergar pela lente do trade-off: uma iniciativa deve ser focada em gerar lucro OU gerar impacto socioambiental positivo. Assim, ações relacionadas a impacto positivo e sustentabilidade foram comumente vistas apenas como custo, e não como fonte de novos negócios. 

Nos últimos anos, isso vem mudando. Conceitos como Valor Compartilhado, Capitalismo Consciente e Capitalismo de Stakeholders, além da ascensão do conceito ESG, trouxeram diferentes lentes para enxergar o assunto. 

Estamos evoluindo essa visão do “OU” e aprendendo que podemos gerar resultado financeiro de forma integrada à geração de impacto positivo. Mas, para muitas empresas, esse alinhamento entre as duas esferas ainda não é tão óbvio. 

Ainda assim, por que ignorar essa visão não é mais uma opção?

Elencamos aqui três formas de enxergar o porquê de mudar:

Mudar pelo medo

De um lado, medo de perder consumidores, colaboradores e potenciais talentos. Diversos estudos demonstram que grande parte dos consumidores já compra com base no posicionamento das empresas em questões sociais. E especialmente os millennials e a geração Z têm buscado empresas em que possam trabalhar com propósito e alinhamento de seus valores, envolvendo-se em algo maior do que o lucro, apenas.

Por outro lado, medo de perder investidores. Grandes investidores como a BlackRock e a Goldman Sachs vêm alertando sobre a responsabilidade das empresas e mudando suas práticas de investimento para estimular maior engajamento das empresas nas questões socioambientais.



Mudar pela oportunidade de ganhar

Em 2013, Raj Sisodia, um dos fundadores do Capitalismo Consciente, fez um estudo revelador: empresas que praticam o “capitalismo consciente” performam dez vezes melhor. Segundo ele, essas empresas têm melhores resultados porque tratam melhor seus stakeholders: seus fornecedores ficam satisfeitos em fazer negócios e seus colaboradores são mais engajados, produtivos e propensos a permanecer. Dessa forma, são melhor recebidas em suas comunidades, e os consumidores são mais leais e estão mais satisfeitos.


Este estudo da McKinsey, de 2019, traz uma informação similar. Ele elenca cinco caminhos pelos quais as práticas ESG geram valor: crescimento de receita, redução de custos, intervenções legais e regulatórias, aumento de produtividade e otimização de ativos e investimentos.

Mudar pela necessidade e senso de responsabilidade

Por fim, propor-se a adotar práticas ESG e gerar impacto positivo vai (ou deveria ir) muito além de fazer um check-list de exigências. Deveria ser parte de uma mudança maior, uma forma mais respeitosa de enxergar, pensar e agir, menos egoísta, que priorizasse o cuidado com as pessoas e o ambiente ao nosso redor. Deveria, ou poderia, ser parte de um ganho de consciência sobre nossos desafios sociais e ambientais e o desejo de mudar nossa realidade para melhor.

 

Não é possível uma empresa prosperar enquanto seu entorno está desmoronando. Mesmo pensando de forma individualista, por exemplo, a falta de educação afeta a capacidade de atrair bons talentos, colaboradores doentes afetam a produtividade, a falta de insumos naturais (como água) afeta o acesso a matérias-primas para produção – entre tantos outros exemplos.

As empresas estão em diferentes estágios

Acreditamos que as empresas podem e devem ser relevantes para superar os desafios sociais e ambientais centrais de nosso País. No entanto, sabemos que a estrada é longa e que muitas delas, além de não gerar impacto positivo, geram impacto negativo.

Sabemos também que a grande maioria possui seu “teto de vidro” e incoerências com o objetivo de gerar impacto positivo. No entanto, na busca por coerência e consistência, é preciso reconhecer as inconsistências ao longo do caminho. Dizer para onde quer ir, mas reconhecer onde está. Toda transformação relevante envolve incômodos e desconfortos.

Para a economista inglesa Kate Raworth, criadora do conceito da Economia Donut, quando as empresas tomam consciência de que precisam fazer parte da solução e adotar práticas mais sustentáveis, podem apresentar diferentes tipos de comportamento, que ela dividiu em cinco estágios:

Gerar impacto positivo não é sobre uma linha de chegada, mas sobre uma forma de caminhar. É um compromisso de longo prazo. À medida que se avança, mais se ganha lucidez sobre o que é necessário melhorar, o que também evita a prática do greenwashing.

Não adianta atuar na agenda ESG sem mudar o antigo modo de operar. Querer aderir à onda com uma urgência curto-prazista, midiática, para ganhar rapidamente um selo é a velha forma de operar, que não funciona mais.

Uma pesquisa com mais de 1.500 CEOs ao redor do mundo mostrou que 58% deles admitem que suas empresas praticam greenwashing. Ou seja, promovem discursos sobre práticas sustentáveis, mas não as praticam de fato. 

Um contraponto interessante é que 74% dos entrevistados reconhecem que a sustentabilidade pode trazer “mudanças poderosas nos negócios” – mas, se ela não sair do discurso, dificilmente teremos mudanças poderosas refletidas também em avanços sociais e ambientais. 

Acreditamos que as empresas não mudam da noite para o dia e que não existe um estágio certo ou errado para estar agora. Um movimento de transição deve ser iniciado, e o primeiro passo é sair do estágio da inércia e estar preparado para evoluir constantemente.

Objetivos de desenvolvimento sustentável

Do que estamos falando quando falamos de “impacto positivo”? 

Uma das principais referências para embasar que temáticas, causas e avanços são necessários são os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU – os ODS.

Criados em 2015 como parte da Agenda 2030, os ODS se tornaram um plano de ação global que convoca todos os países e setores da sociedade a se engajar em objetivos comuns.

Os ODS são os compromissos desse plano adotado em 2015 por todos os países membros das Nações Unidas para encontrar soluções para os problemas globais até o ano de 2030. São 17 objetivos e 169 metas que pautam aspectos da vida humana e da natureza, como, por exemplo: Igualdade de Gênero (ODS 5), Energia Limpa e Acessível (ODS 7) e Saúde e Bem-Estar (ODS 3).